segunda-feira, 30 de junho de 2008








HUMILDADE (Cecilia Meireles)

Tanto que fazer!

livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,

línguas que não se aprendem,

amor que não se dá,

tudo quanto se esquece.

Amigos entre adeuses,

crianças chorando na tempestade,

cidadãos assinando papéis, papéis, papéis...

até o fim do mundo assinando papéis.

E os pássaros detrás de grades de chuva.

E os mortos em redoma de cânfora.

(E uma canção tão bela!)

Tanto que fazer!

E fizemos apenas isto.

E nunca soubemos quem éramos,

nem para quê.

domingo, 29 de junho de 2008

Vale do Anhangabaú - São Paulo/SP - De uma vista elevada, a partir do Viaduto do Chá, podemos observar a luz da manhã, que vem do leste esparrama-se sobre o Vale. Ainda despertam os moradores de ruas que por ali passam a noite. Dispersam-se, cada qual para um lado, enquando a geometria do piso indica (n) direções a seguir.... Qual seria o melhor caminho?

Curvas e Retas (Euna Brito de Oliveira)

...... As curvas que se fazem
Pela natureza do solo,
Por algum código genético,
Por necessidade,
Ou pra desvio,
Até mesmo da verdade...
As retas que, de tão diretas,
Aliviam o olhar
Que buscam uma resposta no ar...

sábado, 28 de junho de 2008

Praga/2.002 -

A Ponte Carlos (em tcheco Karlův most) é a ponte mais velha de Praga, e atravessa o rio Moldava da Cidade Velha até a Cidade Pequena. É a segunda ponte mais antiga existente na República Tcheca. Sua construção començou em 1357 a pedido do rei Carlos IV, e foi finalizada a princípios do século XV. Sendo ela a única forma de atravessar o rio, a Ponte Carlos se transformou na via de comunicação mais importante entre a Cidade Velha, o Castelo de Praga e as zonas adjacentes até 1841. Originalmente, esta via de comunicação foi chamada de Ponte de Pedra (Kamenný most) e Ponte de Praga (Pražský most), mas leva sua denominação atual desde 1870. Em cada uma das colonas da ponte há uma há uma escultura representando alguma passagem bíblica, santos ou patronos. Do alto pode ver a pequena ilha de Kampa, não maior do que poucos campos de futebol.

Cidades Invisiveis (Italo Calvino)

"Marco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra.
– Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? —pergunta Kublai Khan.
– A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra —responde Marco—, mas pela curva do arco que estas formam.
Kublai Khan permanece em silêncio, refletindo. Depois acrescenta:
– Por que falar em pedras? Só o arco me interessa.
Polo responde:
– Sem pedras, o arco não existe."

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Berlin - 2.002 - Igreja Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche, um dos marcos mais famosos de Berlin, inaugurada em 1895 e destruída na Segunda Guerra Mundial em 1943. Depois da guerra os destroços foram removidos e e ficou apenas a torre da frente. Logo na saida do Metrô, no canteiro central, podemos ter esta vista, por baixo de uma escultura de arcos metálicos. Num agosto, em pleno verão, quando ainda tem sol às 20:00, foi possível captar este belo contra-luz.

Finda a tarde.
Finda o amor.
Finda o mundo.
E resta o céu escuro,
O sonho mudo
E o muro de Berlim.
A minha guerra fria
Retratada num muro
Rompendo-me de mim.
Meu pseudo-limite,
A dor que resiste,
Separando-me os extremos.
D’outro lado o meu oposto,
Meu outro rosto,
Um outro eu.
Pôr-do-sol
E tudo jaz.
Pseudo-paz!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Liberdade/São Paulo - 2.002 - O tradicional da colônia nipo-brasileira em São Paulo, ainda hoje conserva suas características do comércio e restaurantes voltados aos produtos orientais. Na praça da Liberdade, onde fica a entrada da estação do Metrô, algumas bancas de revistas oferecem livros didáticos, revistas e mangás japoneses. A integração cultural, quem sabe, pode ter levado este senhor a se interessar por outras revistas não nipônicas.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

São Luiz do Paraitinga/SP -2.002 - Considerada a cidade mais "caipira" de São Paulo, por suas vielas, ladeiras e praças podemos entrar em contato com um pouco do passado do Estado de São Paulo, da herança portuguesa e africana, miscigenados em festividades populares/ religiosas, como a Festa do Divino. O calçamento de pedra, em várias ruas e vielas remonta da tradição portuguesa.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Vlatva - Praga - 2.003 -Protegido do Sol por uma das colunas decorativas da Ponte Carlos, foi captado o contraluz nas águas calmas e dos barcos que deslizam pelo Rio Vlatva. Imortalizado na sinfonia de Dvorak, o Rio, que corta a cidade, dividindo-a entre nova (novemestike) e velha (stáromestike) é o ponto de partida para uma viagem pelo imaginário de Praga. De uma lado o complexo do Castelo e do outro teatros, museus e prédios históricos, sem contar os cafés e bares localizados em suas simpáticas praças e vielas.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

São Paulo - Na ladeira da Rua São João, quase Praça Antônio Prado, por onde durante anos atravessei em direção ao trabalho, temos esta ciranda de edifícios. O Martineli, primeiro arranha-céu da Cidade, o do Banco do Brasil à sua frente e ao fundo o edifício que por muitos anos foi a sede do Banespa. Lente de 28mm na máquina e equipamento a 90º e muito próximo ao solo. É assim que aconteceu a imagem. Na avenida Paulista, creio que no prédio ao lado do Center 3, em uma tarde, estas escadas de emergência se destacaram da paisagem, simetricamente alinhadas e voltadas para o vazio do céu.

domingo, 22 de junho de 2008

São Paulo - Catedral da Sé - 2.001 - Numa manhã fria de inverno, em junho, quase que por acaso fui beber um pouco de água, lá pelas 5:00 da manhã. Era domingo. Pela janela, do 9º andar vi uma névoa intensa que cobria todo o bairro, olhei mais longe e cobria toda a cidade até onde meus olhos conseguiam alcançar. Não pensei muito, peguei meu equipamento e fui para o centro da cidade, mais exatamente para a Praça da Sé. Não sei precisar, mas me veio em mente fazer uma foto onde as torres da Igreja tivessem tomadas pela névoa. Lá pelas 6:00, quando cheguei, a névoa já havia se dispersado um pouco, mas ainda consegui algumas imagens. É nessas horas que é reforçada a tese de que o fotógrafo, dentro da sua linguagem já tem algumas cenas que persegue, que estão delicadamente elaboradas só aguardando o momento oportuno, onde os elementos necessários se encontram. Ai é só enquadrar a camêra e realizar a foto.

sábado, 21 de junho de 2008




















Estrada de Ferro SP/Francisco Morato -2.000

A morte é a curva da estrada (Fernando Pessoa)

A morte é a curva da estrada,
morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Vila Romana - São Paulo - SP - 2.001 - Feira Livre - Um exercício de sabores, perfumes e côres. Os tempêros dispostos desta forma me fazem lembrar dos mercados árabes, com suas múltiplicidade de especiarias e condimentos. É neste momento, que ao se captar uma imagem devemos também captar a essência dos elementos, levando-nos a ativar outros sentidos, a criar outras fantasias e compor outras histórias em torno dos mesmos elementos.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Largo do Arouche - SP - Banca de Flores - 1.999 e 34ª Hanamatsuri - Festa das Flores - Liberdade - SP - 2.000 - No centro velho de São Paulo, próximo à rua São João fica uma série de bancas de flores, que diariamente renovam seus estoque levando para dentro das casas e escritórios as belezas em multicores e formas. A imagem do cravo vermelho, profundidade de campo quase mínima, deixa suspensas no ar as pétalas e as rosas amarelas no balde permanecem como se fossem tênues luzes de um abajour.
Cravos Vermelhos (1916)
(Florbella Espanca -poetisa portuguesa)

Bocas rubras de chama a palpitar,
Onde fostes buscar a cor, o tom,
Esse perfume doido a esvoaçar,
Esse perfume capitoso e bom?!

Sois volúpias em flor! Ó gargalhadas
Doidas de luz, ó almas feitas risos!
Donde vem essa cor, ó desvairadas,
Lindas flores d´esculturais sorrisos?!

...Bem sei vosso segredo...Um rouxinol
Que vos viu nascer, ó flores do mal
Disse-me agora: "Uma manhã, o sol,

O sol vermelho e quente como estriga
De fogo, o sol do céu de Portugal
Beijou a boca a uma rapariga..."

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Estrada de Ferro São Paulo/Franco da Rocha 2.000 e São Luiz do Paraitinga - 2.002 - As tais das casas de madeira e antigas de cidades do interior, em côres vibrantes e as janelas venezianas presentes.

terça-feira, 17 de junho de 2008

São Luiz do Paraitinga - SP - 2.002 e Limeira - SP - 2.001 - De um ponto de vista inferior e distante, observem estes suportes das chamadas janelas venezianas; isto mesmo referência às partes internas àquelas utilizadas em Veneza. Fazem-me lembrar das casas de madeira do interior. Janelas de onde, na calma do dia, senhoras ficavam a observar o movimento dos pedestres nas ruas daquela época.

A Rua dos Cataventos - Mario Quintana

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!

segunda-feira, 16 de junho de 2008


São Paulo - Estação da Luz - 2.001

domingo, 15 de junho de 2008

Estação da Luz - 2.001

sábado, 14 de junho de 2008














Estação da Luz - 2.001

sexta-feira, 13 de junho de 2008















São Paulo - Estação da Luz - 2.001

quinta-feira, 12 de junho de 2008

E sem pretensão fui colocando as imagens e divulgando aos amigos e também vieram os amigos dos amigos, até que um dia a Mônica, inspirada pelas imagens e por outras poesias resolveu homenagear o blog.

PRATA E PIXEL (Mônica Dias-Poetisa Potiguar)
FIZ UM PEDIDO PARA A LUMINOSIDADE
QUE, SORRATEIRA, ENTRE PELA SUA LENTE
QUAL O AMOR QUE O ACASO TRAZ PRA GENTE
E COMO O SOL, SUAVEMENTE NOS INVADE:

QUE, COMO CÚMPLICE,GUIE VOCÊ SEMPRE À BOA CENA
EM PRETO E BRANCO, UMA EM SÉPIA OU MULTICOR
E CAPTURE COM SEU OBTURADOR
TEMAS INCRÍVEIS, DOS SERTOES À CARTAGENA

QUE O TEMPO PARE QUANDO VIR ALGO MELHOR
E TIVER PRESSA NA AGITADA CORRERIA
POIS PRATA E PIXEL SERÁ TUDO AO SEU REDOR

E SIMPLESMENTE VÁ FAZENDO O SEU CAMINHO
LENDO SINAIS, E TAL COMO UMA MAGIA
VÁ TRANSFORMANDO CADA FOTO EM POESIA...
Estação da Luz - São Paulo - 2.001 - Por entre as estruturas metálicas, trazidas e projetadas pelos ingleses, no século XIX, é possível captar a espera dos usuários por um trem. Estes recortes de curvas e retas, o posicionamento em nível elevado com relação à pessoa fotografada e a possibilidade de se manter na distância exata para que a imagem seja captada da forma mais natural possível, tornam este lugar um espaço que sempre retornam imagens que valem a pena. Creio que a contra luz que entra pelos trilhos é a fonte desta energia, destacando os pontos metálicos, valorizando o espaço amplo e dando uma atmosfera interna de luz bem difusa.

quarta-feira, 11 de junho de 2008































São Paulo - Parque da Cantareira - 2.001 - Em meio à Floresta Atlântica, o maior parque urbano do Planeta num dos pontos mais altos da cidade, é possível se desligar dos Km de engarrafamentos e do agito das ruas e com um olhar atento observar um esporo que emergia há dias e agora com seus tons róseos se prende ao tronco; este que não vive mais, mas ainda dará vida a outros...

Joaquim Marques (poeta portugues)
Outrora
Os fungos fundiam
A fome do abeto
E as folhas fungavam
O desespero dorido
Da fome doente
Outrora…
(…)
Ontem
O fungo fundiu
A fome do feito
E as folhas fungavam
O desespero mecânico
Da Era doente.

terça-feira, 10 de junho de 2008




Avenida Paulista - São Paulo - 2.001 - Refletidos uns nos outros os espigões da paulista, em recorte, acabam por se tornar uma obra abstrata e mais que concreta, impedindo a luz de brilhar sobre os ombros dos apressados. E de tanta sombra exposta na maior parte do dia, um feixe de luz que se projeta no asfalto se destaca por entre os predios e guia o caminho dos pedestres no sinal.

REFLEXO (linney jeanne palma)

O reflexo daquela luz
de onde vem

que ilumina
meu rosto triste
Faz-me pensar
que existe em alguma distância
alguém velando meu sono
e que inventa a minha esperança
cobre minha memória

e devolve
para as minhas artérias
a poesia

segunda-feira, 9 de junho de 2008






























Campos Eliseos - São Paulo - 2.001 - Ao lado do Colégio Sagrado Coração encontra-se a Igreja de mesmo nome. Em uma manhã de domingo casais chegam à Missa, fiés se encontram na calçada e a velha andarilha; cabisbaixa, pára as pessoas em busca de "ajuda".

Conclusões de Aninha (Cora Coralina )

Estavam ali parados. Marido e mulher.
Esperavam o carro. E foi que veio aquela da roça
tímida, humilde, sofrida.
Contou que o fogo, lá longe, tinha queimado seu rancho,
e tudo que tinha dentro.
Estava ali no comércio pedindo um auxílio para levantar
novo rancho e comprar suas pobrezinhas.

O homem ouviu. Abriu a carteira tirou uma cédula,
entregou sem palavra.
A mulher ouviu. Perguntou, indagou, especulou, aconselhou,
se comoveu e disse que Nossa Senhora havia de ajudar
E não abriu a bolsa.
Qual dos dois ajudou mais?

domingo, 8 de junho de 2008






























Campos Eliseos - São Paulo - 2001. No final da Alameda Dino Bueno, quase nos trilhos, com vista para o prédio do moinho. Andando num dia de domingo, quase chuvoso, descobri esta curva. Por ali os moradores iam e vinham, às vezes da feira, uns com pressa outros de bicicleta, a maioria a pé aproveitando a tranquilidade dominical do bairro.

Poema da Curva (Oscar Niemeyer)

Não é o ângulo reto que me atrai,
Nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo o homem.
O que me atrai é a curva livre e sensual.
A curva que encontro no curso sinuoso dos nossos rios,
nas nuvens do céu,
no corpo da mulher preferida.
De curvas é feito todo o universo,
O universo curvo de Einstein.

sábado, 7 de junho de 2008















Uma Avenida - 2.008 - O sinal primeiro dizia pare. Foi o tempo de ligar a máquina e através do parabrisa do carro captar a proibição de avançar. Os movimentos com a camera expandiram as gotas de água em feixes de luz. Em seguida, ainda sob o efeito da proibição, mas já com a permissão de siga, um leve movimento da camera para frente e para trás, no momento em que o botão disparador era acionado, permitiu capturar esta imagem onde os pontos de luz paracem estar sendo atraídos pela lente da camera.

sexta-feira, 6 de junho de 2008









































Dança de Côco - Natal - 2.008 - Seguindo o "post" anterior, que trazia a dança como tema, nesta série reforço a idéia do movimento sobrepondo-se à própria nitidez, criando a sensação de movimento e presença da dança. Coco significa cabeça, de onde vêm as músicas, de letras simples. Com influência africana e indígena, é uma dança de roda acompanhada de cantoria e executada em pares, fileiras ou círculos durante festas populares do litoral e do sertão nordestino

Xaria e Canguleiro
(Joanir Cesar da Costa - poeta potiguar)

Uma xaria me contou
que um dia se apaixonou

por um canguleiro pobre

um mulato pescador.

Apelidado de mula
o pescador se orgulhava

de ser mulato na cor

e ser filho de escrava.
Uma branca da Cidade

um mulato da Ribeira

ela da sociedade
ele sem eira nem beira.

quinta-feira, 5 de junho de 2008






















Sesc Pompéia - 1.999 - Em uma festa folclórica se apresentava um grupo de danças portuguesas com origem na Ilha da Madeira. Fazia parte deste grupo uma comunidade luso-brasileira de Santa Catarina. Se dança é movimento, tentar representar este movimento em um quadro é o desafio. Colocar em harmonia as cores, a luz ambiente e as evoluções dor corpos no espaço, ressaltando o tom marcante do vermelho....

Maria Teresa Horta (Poetisa Portuguesa)
Para quem danço?
Nem eu sei....
Danço com as palavras, com as mãos, com os olhos
Danço sozinha no meio das gentes
Danço nua, vestida de azul, ou de negro e até de vermelho já me cobri.
Danço a rir e a chorar
Danço a sonhar
Até quando amo, eu danço.