domingo, 28 de fevereiro de 2010

sábado, 27 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

METÁFORA (Gilberto Gil)

Uma lata existe para conter algo, mas quando o poeta diz: "LATA", pode estar querendo dizer o Incontível.

Uma meta existe para ser um alvo, mas quando o poeta diz: "META", pode estar querendo dizer o inatingível.

Por isso, não se meta a exigir do poeta, que determine o conteúdo em sua lata. Na lata do poeta tudo nada cabe, pois ao poeta cabe fazer, com que a lata venha caber, o incabível.

Deixe a meta do poeta, não discuta. Deixe a meta fora da disputa. Meta dentro e fora, lata absoluta. Deixe-a simplesmente metáfora.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Quero escrever o borrão vermelho de sangue (Clerice Lispector)

Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu,
por falso respeito humano,
não dei.

Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.

Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Coruja

Poemas (Mario Quintana )

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O Tempo (Mário Quintana)

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

sábado, 20 de fevereiro de 2010

CENTRO - SP

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010


O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem

João Guimarães Rosa

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

PORTO DO MANGUE/2008

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010


Entre Irse y Quedarse (OtÁVIO pAZ)

Entre irse y quedarse duda el día,
enamorado de su transparencia.
La tarde circular es ya bahía:
en su quieto vaivén se mece el mundo.
Todo es visible y todo es elusivo,
todo está cerca y todo es intocable.
Los papeles, el libro, el vaso, el lápiz
reposan a la sombra de sus nombres.
Latir del tiempo que en mi sien repite
la misma terca sílaba de sangre.
La luz hace del muro indiferente
un espectral teatro de reflejos.
En el centro de un ojo me descubro;
no me mira, me miro en su mirada.
Se disipa el instante. Sin moverme,
yo me quedo y me voy: soy una pausa.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

ESCRITO COM TINTA VERDE (Haroldo de Campos)

A tinta verde cria jardins, selvas, prados,
folhagens onde gorjeiam letras,
palavras que são árvores,
frases de verdes constelações.

Deixa que minhas palavras, ó branca, desçam e te cubram
como uma chuva de folhas a um campo de neve,
como a hera à estátua,
como a tinta a esta página.

Braços, cintura, colo, seios,
fronte pura como o mar,
nuca de bosque no outono,
dentes que mordem um talo de grama.

Teu corpo se constela de signos verdes,
renovos num corpo de árvore.
Não te importe tanta miúda cicatriz luminosa:
olha o céu e sua verde tatuagem de estrelas.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

METADE (Ferreira Gullar) trecho

........

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade…
também

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ode à Chuva - trecho (Pablo Neruda)

Voltou a chuva.
Mas não veio do céu
ou do Oeste.
Voltou da minha infância.
A noite abriu-se, um trovão
comoveu-a, o estrondo
varreu as solidões,
e então
chegou a chuva
da minha infância,
primeiro
numa rajada
raivosa, depois
como a cauda
molhada
dum planeta,
a chuva
tic tac mil vezes tic
tac mil
vezes um trenó,
uma vasta pancada
de escuras pétalas
na noite,
subitamente
intensa
...........................

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Não Ser (Florbela Espanca)

Quem me dera voltar à inocência
Das coisas brutas, sãs, inanimadas,
Despir o vão orgulho, a incoerência:
— Mantos rotos de estátuas mutiladas!
Ah! Arrancar às carnes laceradas
Seu mísero segredo de consciência!
Ah! Poder ser apenas florescência
De astros em puras noites deslumbradas!
Ser nostálgico choupo ao entardecer,
De ramos graves, plácidos, absortos
Na mágica tarefa de viver!
Ser haste, seiva, ramaria inquieta,
Erguer ao sol o coração dos mortos
Na urna de oiro de uma flor aberta! ...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Teu Segredo (Florbela espanca)

O mundo diz-te alegre porque o riso
Desabrocha em tua boca, docemente
Como uma flor de luz! Meigo sorriso
Que na tua boca poisa alegremente!

Chama-te o mundo alegre. Ai, meu amor,
Só eu inda li bem nessa alegria!…
Também parece alegre a triste cor
Do sol, à tarde, ao despedir-se o dia!…

És triste; eu sei. Toda suavidade
Tão roxa, como é roxa uma saudade
É a tua alma, amor, cheia de mágoa.

Eu sei que és triste, sei. O meu olhar
Descobriu o segredo, que a cantar
Repoisa nos teus olhos rasos d’água!…








segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

RIBEIRA / 2008

Ser brecha de ar em Rua estreita
Senda de vento na força, imensidade
Tem na arte a simbologia perfeita
De que nada aprende e tudo sabe

Se o que escrevo é branca claridade
Que o meu ego se apraz de incenso
Serei apenas ecos, silvos de saudade
Enriquecido nas palavras que penso

Se sou alguém que circula pelo mundo
Que faço das odes saber amplo e profundo
Se me honram e julgam em pose abastada

Serei pobre entre versos escritos na idolatria
E sentirei na mente que o sonho de cada dia
Faz-me acordar, dizendo que não sou nada

sábado, 6 de fevereiro de 2010

RIBEIRA / 2008

HELENOS (Mario Faccioni Filho)

"não era nada e perguntou/ ao espelho, quem sou/ reflexo do reflexo sobre/ lâmina da água ou gelo..."
Correrá o rio interminável,
correrá com as palavras aptas a angariar o mundo. "haverá um broto alheio e estranho/que guardaremos na memória feito o momento fugaz/de um gesto, um lance/um íntimo/e tu dirás:é o ponto/de tua anônima alegria".

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

GRANJA VIANA - SP 2006

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Genipabu - 2009

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Espera...(Florbela Espanca)

Não me digas adeus, ó sombra amiga,
Abranda mais o ritmo dos teus passos;
Sente o perfume da paixão antiga,
Dos nossos bons e cândidos abraços!

Sou a dona dos místicos cansaços,
A fantástica e estranha rapariga
Que um dia ficou presa nos teus braços...
Não vás ainda embora, ó sombra amiga!

Teu amor fez de mim um lago triste:
Quantas ondas a rir que não lhe ouviste,
Quanta canção de ondinas lá no fundo!

Espera... espera... ó minha sombra amada...
Vê que pra além de mim já não há nada
E nunca mais me encontras neste mundo!...