sábado, 7 de fevereiro de 2009

Acari/RN - 2.008


















[de Casaubon p/ Umberto Eco] - Rui Ventura

a beleza da colina
dissolve no sangue as raízes do medo.

noutra ordem, as células
misturam no cérebro
o tempo e a ilusão do tempo,
matéria e aparência de matéria
– que uma legenda corrompida
codifica na memória.

a prumo sobre a terra,
o segredo preenche o vazio dos ossos.
ele próprio vazio, governa
o alimento e a viagem
por esse vale onde a pedra
sustenta a contemplação
das vísceras do mundo.

ouro e excrementos
mantêm de pé o edifício.
mesmo falso, o observatório
devolve-nos uma imagem
de família, traços e formas
num rosto perdido há tantos anos.

legítima, a incerteza
dissolve na sombra as raízes do medo.
a vida conserva-nos sem matéria.
existimos sem eixo, sem prumo –

procurando em qualquer lugar
a gravidade que nos liberte
e faça renascer das cinzas.

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