sábado, 31 de julho de 2010

PIPA / RN 2010

TABACARIA(Alvaro de Campos/Fernando Pessoa)

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

PIPA/2010

A Janela, a Luz, a Faixa (Alfa-x)

A luz se depara na janela como uma faixa

Reparo, penso, descanso e descalço levanto

Reparo nas estrelas inexistentes do dia

Me deparo com as pertinentes tarefas, é uma briga

Mesmo assim, continuo a caminhar

Desbravar e mostrar para todos

Que não se vive sem alegria

Calço o sapato e corro pela rua

Não torço, pois não tenho a quem torcer

Mas sim expresso, pois tenho o que expressar

Entre as palavras e as poesias

Vejo em ti o brilho das energias

Em toda história que se preze

Deve-se ter um final, bom ou ruim

Portanto, traçamos o nosso caminho

E nos tornamos assim, felizes

A faixa de luz se torna mais branda

Com a chegada do luar

Em meio ao quarto e a janela pouco aberta

Vejo assim, as reais estrelas

Descanso, reparo, penso, e descalço me deito

Me torno aquele que sempre quis

Antes de tirar o sono da noite

E assim, clamo para mais um dia no belo amanhã

sexta-feira, 30 de julho de 2010

PIPA / RN 2010

quinta-feira, 29 de julho de 2010

PIPA / RN 2010

Mar Novo (Manuel Rui)

Tudo é fugaz
entre o desenho do teu pé na areia
e a onda que desfaz
a marca

Entre a guerra e a paz
retorno fisicamente o poema a onda
constante meditação primeira.

Nós e as coisas.

Nada permanece que não seja
para a necessária mudança.
Que o diga o mar.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

PIPA / RN 2010

Vamos caminhar (Marcelo Labonia)

Vamos caminhar
que delícia é sentir a areia nos pés
o barulho do mar
e aquela leve brisa a tocar meu rosto
perceber que a natureza
traduz tudo o que é bom
tudo que nos faz sentir melhor
ao entardecer sinto o cheiro
que vem do mar
me faz imaginar
e lembrar como é bom sonhar
estar ali aquele momento
e perceber
que pro nosso coração
não há sentimento melhor
do que o amor
o amor, por tudo ao nosso redor.

terça-feira, 27 de julho de 2010

PIPA / RN 2010 - JANELA

UMA JANELA PARA O PASSADO (JJ Leandro)

Janela aberta é saudade.
Quem se debruça sobre ela
Sabe e sente
Que tem olhos no passado
E o corpo no presente.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Da Minha Janela (Florbela Espanca)

Mar alto! Ondas quebradas e vencidas
Num soluçar aflito, murmurado...
Vôo de gaivotas, leve, imaculado,
Como neves nos píncaros nascidas!

Sol! Ave a tombar, asas já feridas,
Batendo ainda num arfar pausado...
Ó meu doce poente torturado
Rezo-te em mim, chorando, mãos erguidas!

Meu verso de Samain cheio de graça,
Inda não és clarão já és luar
Como um branco lilás que se desfaça!

Amor! Teu coração trago-o no peito...
Pulsa dentro de mim como este mar
Num beijo eterno, assim, nunca desfeito!...

domingo, 25 de julho de 2010

PIPA / RN 2010 - JANELA

Privilégios do Mar (Carlos Drummond de Andrade)

Neste terraço mediocremente confortável,
bebemos cerveja e olhamos o mar.
Sabemos que nada nos acontecerá.

O edifício é sólido e o mundo também.

Sabemos que cada edifício abriga mil corpos
labutando em mil compartimentos iguais.
Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador
e vem cá em cima respirar a brisa do oceano,
o que é privilégio dos edifícios.

O mundo é mesmo de cimento armado.

Certamente, se houvesse um cruzador louco,
fundeado na baía em frente da cidade,
a vida seria incerta... improvável...
Mas nas águas tranqüilas só há marinheiros fiéis.
Como a esquadra é cordial!

Podemos beber honradamente nossa cerveja.

sábado, 24 de julho de 2010

SÃO JOSÉ

Soneto da Perdida Esperança (Carlos Drummond de Andrade)

Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.
Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa
com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

PARANAGUÁ / 2009


Sou barco solitário (Van Albuquerque)



Hoje, sou barco solitário
navegando a deriva...
Sendo carregado, empurrado
por águas agitadas, ventos fortes
abandonado no meio do nada

Barco errante, navegando
sem rumo, sem direção...
Mais um náufrago do amor
perdido em sentimentos
ancora no cais da saudade

O luar que prateia o céu
observa de soslaio
minha tristeza infinda
dilacerando, consumindo
minha alma inquieta, solitária

Sou barco solitário, exilado
do mundo, de meus sonhos...
Avisto o horizonte incandescente
em meu peito, só cabe a saudade
navegando nas ondas do meu coração

quinta-feira, 22 de julho de 2010

PARANAGUÁ / 2009

O Amor (Janete Oliveira)

Já é madrugada, as luzes ainda acesas
no quarto de dormir, num toque seu,
nossas siluetas se fundem, descobrem suas belezas,
no abraço, no corpo que é meu e tão teu.

A noite silenciosa se faz cúmplice, na escuridão,
de gemidos pronunciados aos sussurros,
movidos pelos beijos molhados da paixão,
naturalmente refletidos, dois corpos desnudos.

Ao som de uma canção, no silencio perfeito,
na dança da vida, no embalo do amor,
em total êxtase, corações aos pulos no peito,
pensamentos parados, curtindo o sabor.

Aos poucos despencamos no leito, cansados,
com os olhos brilhantes, de felicidade,
a luz se apaga, adormecemos abraçados,
até amanhecer,quando no despertar, vem a saudade.

E tudo se repete, mais uma vez,
momentos inteiros, de entrega e carinho,
e o dia começa com o amor que se fez,
até a noite chegar e voltarmos ao ninho!


quarta-feira, 21 de julho de 2010

PARANAGUÁ / 2009

terça-feira, 20 de julho de 2010

PARANAGUÁ / 2009


Pablo Neruda

É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

PARANAGUÁ / 2009

domingo, 18 de julho de 2010

PARANAGUÁ / 2009

sábado, 17 de julho de 2010

PARANAGUÁ / 2009

sexta-feira, 16 de julho de 2010

PARANAGUÁ / 2009

quinta-feira, 15 de julho de 2010

PARANAGUÁ / 2009

quarta-feira, 14 de julho de 2010

PARANAGUÁ / 2009


A GARRAFA (Manuel Lopes)

Que importa o caminho

da garrafa que atirei ao mar?

Que importa o gesto que a colheu?

Que importa a mão que a tocou

— se foi a criança

ou o ladrão

ou filósofo

quem libertou a sua mensagem

e a leu para si ou para os outros.

Que se destrua contra os recifes

eu role no areal infindável

ou volte às minhas mãos

na mesma praia erma donde a lancei

ou jamais seja vista por olhos humanos

que importa?

... se só de atirá-la às ondas vagabundas

libertei meu destino

da sua prisão?...

terça-feira, 13 de julho de 2010

PARANAGUÁ / 2009

segunda-feira, 12 de julho de 2010

PARANAGUÁ / 2009

Se voce errou (Cecilia Meireles)

Se você errou, peça desculpas...

É difícil perdoar?
Mas quem disse que é fácil se arrepender?

Se você sente algo diga...

É difícil se abrir?
Mas quem disse que é fácil encontrar alguém que queira escutar?

Se alguém reclama de você, ouça...

É difícil ouvir certas coisas?
Mas quem disse que é fácil ouvir você?

Se alguém te ama, ame-o...

É difícil entregar-se?
Mas quem disse que é fácil ser feliz?

Nem tudo é fácil na vida...
Mas, com certeza, nada é impossível...

domingo, 11 de julho de 2010

PARANAGUÁ / 2009

sábado, 10 de julho de 2010

PARANAGUÁ / 2009

sexta-feira, 9 de julho de 2010

PARANAGUÁ / 2009

quinta-feira, 8 de julho de 2010

PARANAGUÁ / 2009

quarta-feira, 7 de julho de 2010

terça-feira, 6 de julho de 2010

segunda-feira, 5 de julho de 2010

domingo, 4 de julho de 2010

LARGO DA ORDEM / CURITIBA / PR / 2009

























i am a little church (E.E. Cummings)


i am a little church(no great cathedral)
far from the splendor and squalor of hurrying cities
-i do not worry if briefer days grow briefest,
i am not sorry when sun and rain make april

my life is the life of the reaper and the sower;
my prayers are prayers of earth's own clumsily striving
(finding and losing and laughing and crying)children
whose any sadness or joy is my grief or my gladness

around me surges a miracle of unceasing
birth and glory and death and resurrection:
over my sleeping self float flaming symbols
of hope,and i wake to a perfect patience of mountains

i am a little church(far from the frantic
world with its rapture and anguish)at peace with nature
-i do not worry if longer nights grow longest;
i am not sorry when silence becomes singing

winter by spring,i lift my diminutive spire to
merciful Him Whose only now is forever:
standing erect in the deathless truth of His presence
(welcoming humbly His light and proudly His darkness)

sábado, 3 de julho de 2010

(aKul Ekulf)

O peso das gotas, sinto-o em mim
O cheiro do chão é a vida a crescer
O corpo molhado sente o fracasso
O vento sopra mesmo sem espaço.
A água corre com o caminho ensinado
A noite chuvosa veio no meu encalço...

O céu é escuro
As nuvens cinzentas
As árvores agitam-se
As sombras concentram-se.

Janelas fechadas
Luzes tremidas...
E a água escorre para a valeta,
O esgoto transborda
A pedra recente
Alastra-se uma poça
Turva e nojenta
A semente ensopa
A raiz rebenta,
Fruto de uma noite de chuva intensa.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

DISTORÇÃO

Mais uma varredura cerébral
Imagêns no vidêo, uma foto no jornal
Morte proposital
Terror constitucional

O poder da combustão das máquinas
A intolerância de uma palavra
A morte pré julgada
Fundamentalismo destoado, desse mundo futuro

Como valeria um simples "APERTO DE MÃOS"
Mas o amargo no coração, impede tudo isso
Mais uma lágrima cai, sem perdão

O ódio, a vida sem amor, sem valor
O corpo explode de um modo sagaz
Anunciando o fim da paz...

quinta-feira, 1 de julho de 2010